domingo, 22 de abril de 2007

Fábula do amor e do tempo

Assim como acontece conosco, os astros se apaixonaram. Mas quis o destino que eles vivessem separados: Sol trabalhava de dia e Lua trabalhava de noite.
Por vezes a Lua ficava tão cheia de saudades de seu amado que passava o dia seguinte em claro, esperando por ele. O Sol, no entanto, não podia fazer o mesmo, porque tinha oito irmãos para cuidar. Julgando-o egoísta, a Lua enciumada sumia dos céus sem dar notícias, reaparecendo dias mais tarde com um sorriso envergonhado.
Enquanto o namorado ficava vermelho de raiva daquela situação imutável, a namorada recolhia-se entre as estrelas e chorava lágrimas de prata. Ao saber de seu choro, o Sol empalidecia de tristeza e cobria-se com as nuvens para esconder que chorava também. Por causa dessa época fria e melancólica, o espaço tornou-se um imenso vácuo - inclusive formaram-se vazios de solidão que ficaram conhecidos como "Buracos Negros". O Sol inflamou de infelicidade e o coração da Lua foi tomado de crateras obscuras.
Um dia, houve uma discussão entre a Lua e o velho Universo, seu pai, na qual a moça gritou aos prantos "De agora em diante, renuncio ao meu brilho. Só hei de aparecer na companhia de meu amado!"
As estrelas apiedaram-se dela, e foram implorar, apavoradas, ao grande deus que tudo dá e tudo tira. "Oh poderoso Tempo! Não deixeis os apaixonados definhando de saudade! Evite esta desgraça! Permita que, com a união d'eles dois, nasça um pouco de vida no coração do Universo!"
O Tempo repondeu, com toda a bondade e sabedoria que tinha (e ainda tem): "Não permitirei desgraça alguma, minhas amigas. Conceder-lhes-ei a graça que me pedem. De agora em diante, Sol e Lua poderão encontrar-se, nos chamados 'Eclipses'. No entanto, ouçam bem: só hão de se encontrar quando eu permitir".
"Mas...mas...se não estiverem sempre juntos, eles vão sofrer! Tu não sabes o que é amar!", protestaram as estrelinhas.
"Como não, se fui eu que inventei o amor? Ouçam tudo, e não me interrompam novamente: no intervalo entre os encontros Lua e Sol não sofrerão!" e o Tempo prometeu curar as saudades, angústias e tristezas dos apaixonados. Disse que, renunciando ao brilho próprio, a Lua provara ser dependente do Sol, e mostrou às estrelas que uma vida de dependência (mesmo mútua) jamais poderia ser plenamente feliz. As estrelas correram para contar tudo aos apaixonados, riscando o céu ao passarem.

Assim, o amor doentio entre Sol e Lua tornou-se equilibrado e sagrado, e da harmonia entre os dois nasceu a vida, como um dia profetizou o Tempo. Até hoje, se você olhar para o céu em um dia de Eclipse, poderá ver Sol e Lua se beijando: um cheio de saudades, o outro ardendo de paixão.

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