quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Eu mitifico as coisas - parte I

Eu mitifico as coisas. Acho que esse é meu maior defeito.

Parte I - Personificação
Personifiquei Rosinha, Sebastian, Pandora... Engraçado que nem todas as personificações tem relação direta com a minha emotividade; descobri que personifiquei meus lugares preferidos também, só porque querem destruir um deles - o Paissandu.
De todos os cinemas cariocas, o meu favorito era esse. É, eu falo como se já o tivessem matado. Pra mim ele tá morto desde que li a notícia. Por um tempo me perguntei se deveria ou não participar das sessões-finais-a-preço-de-banana em sua homenagem, mas decidi que não. Acho que eu choraria. Prefiro lembrar dele como o local das sessões solitárias, da pipoca insossa, o templo da minha auto-suficiência emocional.
O Paissandu não foi um marco na minha história. Nunca conheci ninguém lá, não foi onde eu vi o melhor filme da minha vida; normalmente me escondia nele quando tava afim de ficar só ou quando haviam eventos imperdíveis como a sessão dupla Daniele Thompson e os Festivais de Cinema (o do Rio e o da França). Você não esbarra em conhecidos no Cinema Paissandu do século XXI (em 1968, talvez; outros tempos, outra história), e isso, que pra mim é uma vantagem, deve ser um dos principais motivos do assassinato.
Comprava-se o ingresso quase sem fila, nada de lugar marcado. Enquanto a sessão não começava, Sorvete Itália e Aterro. Às vezes pipoca doce do carrinho ali da frente (esse sim tinha pipocas gostosas!), que é mais barato. Conversava-se com desconhecidos na expectativa do início do filme - "sabia que o principal é filho da diretora?".
Aposto que eles nem consideram isso um crime. Devem achar que é só eutanásia, que o Paissandu já tava meio morto... tava nada. Paissandu era um local de vida pulsante, porém silente (só porque se está quieto se está morto, é isso?); era um lugar de quase-sonho: as poltronas vermelhas de couro, o senhor de cabelos brancos que picotava os ingressos na entrada, a única sala cheinha de gente quando o filme era aclamado pelos críticos.
Não dá pra imaginar ainda o que vão ser dos Festivais sem o Paissandu. Ano passado foi o único a receber a maratona de filmes franceses. Onde será esse ano? E quando eu estiver de saco cheio, pra onde é que eu vou? Matarem o Estação Paissandu é, para mim, como queimarem a Cláudio Coutinho, ou drenarem a Lagoa - um abuso de poder, um egoísmo, uma ofensa à história. Talvez se eles pensassem na blockbusterização dos demais cinemas mantivessem esse, com suas histórias singelas, vivo. Em nome dos bons tempos em que as pessoas davam valor às pequenas coisas.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Para calar meu grito mudo

Eu quero me trancar num baú e engolir a chave
Quero assistir lá de dentro a minha própria alma
Quero assistir lá de dentro à minha própria alma
Vou velar a minha emotividade

Quero me enterrar num baú e me trancar na chave
Quero engolir lá dentro a minha própria alma
Quero engolir lá dentro da minha própria alma
a minha emotividade

Quero me engolir num baú e enterrar a chave
Quero trancar lá dentro a minha própria alma
Quero me trancar lá dentro da minha própria alma

Vou velejar no velório da minha emotividade
levando comigo uma luneta, pois ver miúdo cansa a vista
E sem visão, tudo cansa.