No atual estado de calamidade carioca, me sinto um pouco insensível por escrever banalidades. Porém, convenhamos, do que adiantaria uma dissertação sobre a segurança nacional? Esta eu resumo em duas palavras: mal-remunerada e ineficaz.
E o leitor pergunta: Se não vai falar sobre a história do tráfico brasileiro, por que está escrevendo?
-Calma, leitor. É só vontade.
-Vontade? Você não tem coração?
-Tenho, justamente por isso não quero falar no assunto.
-Então, sobre o que vai falar?
-Que tal sobre o pôr-do-sol maravilhoso que presenciei no meu último dia de paz e tranqüilidade de 2006?
-Ah, pode ser. Já que não tenho muitas opções do que fazer mesmo, vou continuar lendo.
-Agradecida. O fato é que ler um livro (ótimo, por sinal) sentada em um balanço do parque Tom Jobim enquanto o sol desaparecia na Pedra da Gávea e deixava um rastro de luz alaranjada nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas é realmente uma experiência única. Um momento de paz, de integração entre você, o livro e os quadros do artista que prefiro não nomear - Deus, Allah, Buda, Gaia ou Inti?. Só me pergunto se Ele está ocupado demais criando pinturas romancistas como essa - da qual não reclamo - para ver que o fovismo humano já está há tempos transformado em expressionismo e coloca toda Sua obra de arte em perigo. Cá estamos nós, trancados em casa, à espera de algo que faça sentido. Algo que nos ilumine assim como o Sol iluminou a Lagoa ontem a tarde. Algo que finalmente ponha tudo em seu eixo.
- Um milagre?
- Eu diria uma esperança.
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