domingo, 19 de abril de 2009

Quero só o que não existe

Não quero essa atenção ensaiada, estampada nos olhos dos outros.
Não quero a conversa vazia dos salões de vida pseudo-adulta
Não quero sustentar a mentira alheia
Nem a saudação torta, cronometrada, programada.
(às 14h eu tenho tempo - não quero mais ter tempo)

Não quero a carência arredia dessas almas nômades.
Não quero mais quem não sabe nada, nada mesmo,
Nem quem não sabe sentir nada, nada mesmo
além do próprio umbigo

Não quero mais!

Não quero mais ouvir a falta que faz o que não faz falta.
Não quero mais procurar razão no irracional.
Nem saber das histórias de quem quer o que eu não quero.
(E o que eu não quero?)

Não quero mais nada.
Não quero mais ninguém.
Não quero mais lugar nenhum.

Quero mais.


Perdi a capacidade de escrever.

7 comentários:

Daniel Corrêa disse...

me lembrou Bandeira:

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.



tome isso como um elogio incrivel, o Bandeira é meu poeta predileto.


bjos,

Dan

Junior Teodoro disse...

não perdeu, não.

Vanessa S. Raposo disse...

Ótimo blog e post muito tocante!
Conheci seu blog recentemente, e já posso dizer q gostei muito dele!

Deu pra sentir pelo seu texto o nível do "cansaço". Me tocou, principalmente, o "[Não quero] quem não sabe sentir nada, nada mesmo
além do próprio umbigo".
Me tocou pq tenho a convicção tola - daqueles q acham ter certeza de alguma coisa - de q ninguém realmente consegue sair do próprio umbigo. Afinal, vamos enxergar só com nossos olhos até morrermos. E mtas vzs isso pode ser cansativo e desolador...

parabéns pelo excelente blog! =]

Anônimo disse...

Hahaha, fofa.rs. Acaba meeeeeeeeesmo mestrado maldito! Num guento mais. E o seu post me remeteu à canção q eu citei no nosso último encontro: Muito Pouco do Moska.

E muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouca
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais

Se quiser ver a Maria Rita vociferando a música, daí uma olhada aqui ó:

http://www.youtube.com/watch?v=Us1rRe0QC_U

Beijocas!!!

Lívia.

Dancer disse...

Se perdeu a capacidade de escrever, ficarei atônita ao ler algo que você considere bem escrito.
Gostei do que você escreveu. E do caos mental que aí está representado (que pode ser somente um personagem seu, mas em mim, é uma realidade).

Gostei do blog e pretendo visitar mais vezes.
Enquanto você diz que brinca que escreve, eu brinco que concordo contigo.

Você escreve de verdade.
Beijos.

Padu disse...

saber o que não queremos já é um passo enorme para chegarmos no que realmente queremos, que (pelo menos pra mim) é o maior impasse que existe...
Beijocas e um sorriso do gato da alice =]

Igor disse...

Atualiza seu blog, thaty, ele vale muito a pena. :)

Mudei de blog, btw!
Besos, morenona.