sábado, 2 de fevereiro de 2008

Enquanto o lobo não vem

Outrora aquela clareira era mais convidativa. As copas e as folhas entrelaçadas, que formam um pequeno bosque ao seu redor, tinham contornos mais belos. A relva era mais reluzente e o ar mais fresco.
Bastava uma brisa sacodir os ramos das árvores para eu sentir nascer em mim uma vontade - quase um ímpeto - de fazer parte do ballet da natureza. De dançar sozinha entre as árvores, embalada pelo vento, no ritmo do canto de um uirapuru, de um sábia-laranjeira, de um curió...
Quando cansada, estendia os braços e o corpo sobre a grama úmida de orvalho, soltava meus cabelos e deixava o vento emaranhá-los. Pouco a pouco um canto de cigarra tornava-se perceptível e me ninava. Eu fechava os olhos e dormia, acordando horas depois, com o vestido amassado sob a vermelha abóbada celeste do poente.
O céu costumava ser mais azul, as nuvens mais alvas; o silêncio era sinônimo de calma.

Mas o tempo passou. Crescemos (eu e a cidade). E nas desilusões da vida adulta encontrei novamente a minha clareira, infinitamente menos bela, como uma fotografia desbotada pelo tempo. Suas árvores já não têm o mesmo encanto, nem o ar a mesma pureza; seus pássaros migraram para um lugar menos triste, menos cinza, ou foram atraídos por alguma arapuca.
Chego a duvidar deste quadro; o problema deve estar em mim, fui eu que perdi a paleta com que pintava a vida! Então percebo o fato inegável, indubitável...
Não foi o bosque que perdeu a graça, fomos nós que perdemos o bosque.

2 comentários:

Alan Carvalho disse...

Engraçado, também tenho a sensação que os dias eram mais bonitos quando eu era mais novo.

Nas filmagens de paisagens dos anos 80, não sei se é por causa da captação da imagem, mas eu tinha a impressão do sol não ser tão forte.

As coisas tinham uma beleza mais fria, não sei explicar...

Legal o post.

CoffeeBreak disse...

é mesmo, alan, concordo com vc sobre o sol... às vezes parec q a inquietude de nossas vidas q amadurecem (ou nao?!), a preocupação com as responsabilidades, a fatídica rotina já não mais apreciada (aah, bons tempos q corria pra casa pra ver cavaleiros do zodiaco) fazem o sol bater mais forte em nossas cabeças...
é, galerinha, a gente era feliz e não sabia =/