segunda-feira, 4 de junho de 2007

Formigas

Eu estava congelada, às 10:40 da manhã, aproveitando ao máximo os poucos raios de sol que chegavam à arvore sob a qual eu me encontrava no pátio do colégio. Meus dedos pareciam estalagmites e minhas unhas sem esmalte estavam roxas quando a formiguinha vermelha subiu no meu joelho. Dizem que essas, quando picam, deixam ferida, mas nem liguei. A formiguinha tinha uma bunda estranha, comprida e amendoada, e anteninhas curtas. Andava do meu joelho para a minha perna, contrastando com o azul da calça jeans. Engraçado eu não sentir a presença do artrópode, de tão rápido e leve que era. Agora a formiguinha tornava a subir para o meu joelho parecendo desnorteada. Encostei a ponta da unha na minha calça e fui riscando a perna enquanto perseguia a formiga. Ela se aproximou da unha, curiosa, e depois fugiu. Como a bichinha é rápida! Parei de aporrinhá-la para que ficasse mais tempo ali, comigo. Havia agora uma outra formiguinha na minha mão - esta eu senti! - e o sol sumiu atrás de uma nuvem branca. Gelei em dobro; a formiguinha nº 2 desceu da minha mão. A nº1 continuava passeando pela minha calça, imperceptível não fosse a coloração berrante. Li uma vez na apostila de biologia que os aninais de cores fortes tendem a ser venenosos. Será que você é venenosa, companheirinha? Johnny Cash canta seus lamentos embriagados no meu ouvido ("everyone I know goes away in the end") e a nº1 parece redescobrir o caminho de casa. Vai descendo pela minha batata da perna (o que me faz lembrar alguma música infantil deveras suspeita sobre formigas, cócegas e coxas), escala o cadarço branco do meu tênis e se despede, remexendo a tanajura, justo na hora em que soa o sinal para voltarmos ao Tártaro estudantil.
Lamentei sozinha a morte das muitas formigas que esmaguei na vida sem querer querendo e pensei comigo que esta não tardaria a ser esmagada também - era só o ensino fundamental ser liberado.
Subi as escadas meio cabisbaixa com as conclusões a que Johnny Cash e a bichinha me levaram e sentei na carteira azul a tempo ainda de ouvir mais uma música.
Qual não foi minha surpresa quando, sobre a abstração da capa do meu caderno, surgiu uma formiguinha preta de bundinha engraçada...

Um comentário:

Anônimo disse...

formiga taradona