segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vento sul

No quintal, a moça de pele dourada pendura roupa na corda. Os pés molhados transformam em lama o chão de terra batida. O vento seca, suave, o suor de suas coxas. Arrepia-lhe a nuca. Prensa o vestido contra o corpo, revelando curvas voluptuosas.

O velho cancioneiro, reflexivo e só, dedilha uma valsinha em cinco cordas. Concorre com o ruído de um rádio que sussurra sertanejos. Tem os olhos fechados, não se sabe se é de cansaço ou de idade - os olhos se perdem nas rugas morenas de sua pele. Quando a melodia tem um ápice, ele faz uma careta emocionada.

A criança curiosa vem ver na janela de onde vem a canção. Desafina versos com sua vozinha tímida:
"Ai, és tão linda
Rosa silvestre
Dá-me o beijinho
Que prometeste"
Um passarinho pia também.

De súbito ruge um trovão e cala a cantoria. A chuva cai e tudo cessa.
Que pena!

Um comentário:

Nicole Ayres disse...

Lindo o texto, bem sensível!
Gostei muito do seu blog, por isso estou seguindo!

Abraços!

http://vivereler.blogspot.com/