Numa tarde de Domingo, as nuvens negras escondem o sol e os trovões anunciam tempestade. Aos poucos formam-se gotinhas, gotas, gotões. E mais trovões. E mais raios. Luz e som, escuridão e silêncio.
O mendigo, que dormia em frente à padaria, se encolhe sob a marquize numa vã tentativa de manter-se seco. Vã, porque o vento segue a lamentar as desgraças da semana que passou e com seu lamento a chuva cai sem rumo, molhando todo e qualquer lugar como se quisesse lavar o sangue inocente que foi derramado.
O vento é o uivo de dor dos desesperados. As nuvens, negras de pavor e fúria, são o semblante daquele que vê a humanidade se auto-destruir. E a chuva - oh, a chuva! - são as lágrimas de quem já não sabe mais no quê acreditar.
Do 7º andar de um prédio velho, eu olhei por entre as cortinas. Não apenas olhei, mas vi: o mendigo que se encolhia, e a chuva que caía, e a rua que enchia. Além de toda a desgraça nacional - pensei - ainda há esse clima revolto.
Chova, chuva! Vente, vento!
Só o medo e a decepção é que botam juízo na cabeça dessa gente!
Como se atendessem ao meu pedido,
A chuva caiu em prantos,
O vento soprou lamúrios,
Clamando a atenção do povo.
A piedade, a justiça...
Cadê?
Da janela, eu continuei a observar por um bom tempo, rosto colado à vidraça, compartilhando das lágrimas de outrem.
Observei silente, pasma, ferida.
Porque quem cala consente.