quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O assassinato de Teddy

Caminhava o cão com o urso na boca. Caminhava com o rabo abanando, anunciando a presa capturada. Caminhava e invertia a ordem da cadeia alimentar. Mas que covardia, que cachorro pimpão! O urso é de pelúcia! O urso não é do cão!
Acontece que o bicho de brinquedo não pode reagir ao ataque fajuto do bicho de verdade. E assim o pobre ursinho era arrastado pelo chão de taco, com a perna babada dependurada na boca do cão.
Claro que o nosso amigo peludo - o de verdade - não queria fazer mal. Nem inverter a ordem da cadeia alimentar ele queria. Era só travessura, brincadeira inocente... Cachorro sapeca não tem ciso nem juízo. Cheio de boas intenções, o cão pretendia esconder o brinquedo do menino chorão. O menino chorão é o dono do urso. O menino chorão é o dono do cão.
Mas havia um pedaço de madeira solto (nunca confie num chão de taco!) e a madeira sim; a madeira era malvada! Prendeu a costura do pecoço do urso e, junto, acabou por prender o cão também. Só que bicho de verdade não se deixa agarrar. Bicho que é bicho luta pela liberdade!
Logo, o cão - que é bicho, e tem orgulho de sua bicheza - rosnou feroz, mordendo a (dupla) vítima ainda mais forte com seus dentes caninos. Puxa pra lá! Puxa pra cá! E a pelúcia jorrou da cabeça do ursinho. E o ursinho caiu decapitado no chão.
Que tristeza de cena! Pobrezinho do cão! Sem saber o que fazer, a vítima indireta do ataque fatal escondeu a cabeça da vítima direta sob o sofá. E escondeu-se junto, envergonhado da travessura.
Quando o menino chorão chamou o amigo peludo (o de verdade) para brincar, este não respondeu. O menino desconfiou. Chamou de novo e nada. De novo e nada. E nada.
Cadê?
Mobilizou toda a família quando abriu o berreiro.
Cadê? Cadê?
Tá aqui, debaixo do sofá.
Encontra-se o réu, encontra-se a cabeça do urso degolado. Degolado!? Cachorro mau! Muito mau!
Novo berreiro.
Calma, tem conserto. É só achar o corpo.
Arma-se outro mutirão de busca. A família em polvorosa.
Mamãe urso encontra a cena do crime, onde jaziam pelúcia e corpo. A madeira, ursicida descarada, passou despercebida; afinal, quem poria a culpa num mísero soalho?
Mamãe jura operar o moribundo. Diz que ele perdeu muita pelúcia, mas há salvação.
O cão, coitado, é expulso da sala de espera. "Xô, xô, chispa". É levado à força pela coleira vermelha. Apesar de estar chovendo na varanda, este é o cárcere escolhido. Sentença: solidão e frio. "Feio! Mau!", acusa novamente o menino chorão. O inocente lamenta sua miséria. Mas bicho, mesmo que de verdade, não consegue protestar.
E lá vai o cão arrependido à procura de abrigo. O cão com orelhas tão fartas! O cão com um osso roído. O cão com o rabo entre as patas.

3 comentários:

Alan Carvalho disse...

Minha avó tinha um poodle tarado que estuprava os ursos e almofadas, quando podia atacava também as pernsas das visitas.

Isso sim é um cachorro mau! Muito mau!

F.S.C disse...

vendo o comentario do alan, lembrei do Ozzy
ele dava ursinhos de pelucia pro cachorro toda vez que o cachorro queria cruzar com a perna dele (ozzy)
enfim, ótimo texto.
adorei

Anônimo disse...

só damos valor até vir a fome, e ter que matar o cachorro pra come-lo
=D

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judas c