sábado, 10 de novembro de 2007

Quimeras¹ Indomáveis

Não é que eu não ande inspirada; tenho escrito tanto que dava pra encher um caderno, quase. Também não é exatamente falta de tempo, embora isso tenha colaborado um bocado. Acontece que eu simplesmente não consigo mais conceber finais, sejam eles felizes ou inditosos. Aliás, analisando bem a segunda frase desse texto, eu diria mais: não só poderia encher um caderno com as minhas historinhas como quase poderia escrever o meu próprio Contos Inacabados.
O negócio é que há dois tipos de personagem: o tipo I, que nasce feito Kirikou² e já faz tudo por si mesma. Aí é como se houvesse uma vozinha no seu subconsciente contando uma história pronta, cujo final já está previsto desde a primeira sentença. O tipo II é indócil; nasce meio incógnita, não conta tudo o que sabe, e manda a nossa imaginação adivinhar o resto.
-Eu entrei na sala e...
-E o que?
-Adivinha! Há! Pegadinha do malandro!
Personagens incógnitas são também muito exigentes. Batem o pé e reclamam a torto e a direito do final que a gente escolhe para elas. "Não, eu não quero andar de bicicleta até a Conchinchina!". E ai de você se não lhes respeitar a decisão! Somem, desvanecem, apagam-se, extinguem-se (e na maioria das vezes levam consigo a sua história). Lidar com essas chatices da imaginação é uma prova de suprema paciência.
Assumo que não gosto muito dessas personagens, não. Tanto é que alguns contos inacabados estão há muito intocados também. Como não sou Capitão Nascimento³ pra mandar todo mundo pro saco até que revelem o resto da história, não quero mais saber dessas criaturas pentelhas.
Então vocês - leitores - preparem-se para um ou outro final inusitado e nonsense que possa aparecer daqui por diante. E vocês - personagens insolentes - saibam que desisto de tentar satisfazer-lhes a vontade, e que não vou de jeito nenhum deixar um bando de incógnitas malcriadas felizes para sempre.
Tenho dito.

Observações:
¹ Monstro da mitologia grega com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão que cuspia fogo; palavra comumente utilizada para representar o imaginário.
² Personagem folclórico africano. Reza a lenda que Kirikou era um menino capaz de andar e falar imediatamente após o seu nascimento. Salvou sua vila, enquanto ainda recém-nascido, destruindo os poderes da feiticeira Karaba.
³ Criatura lendária do neo-folclore brasileiro. Acredita-se ser um homem de preto que assusta satanás.

Um comentário:

N disse...

hahah genial.

aproveito pra explicar por que não tem nada novo no meu blog. Ao contrário de você, o que eu tenho escrito não dá pra encher nem meia folha de papel A4. Por incrível que pareça, sempre penso no que colocar lá (ainda bem que pensar ainda é inevitável...), mas só o que saem são introduções, não chego a completar nada, e pra piorar, sou um verdadeiro às na arte de não registrar os pensamentos e impressões.
Acho que é isso.
;]