Querida,
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Como estão as coisas? Sua mãe, os meninos...
Aqui estamos todos muito bem, exceto pelo Seu Adalberto do andar de baixo, que continua roubando o caderno de esportes do nosso jornal - atitude esta que irrita imensamente meu companheiro de quarto. Quanto a mim, vou de vento em popa. As ações da empresa subiram admiravelmente, fui inclusive parabenizado pelo Eduardo na semana passada, e ele marcou uma "conversinha" para essa quinta-feira; creio poder levar algumas lembrancinhas para casa quando for visitá-los.
Mateus está indo bem na escola? E Carolzinha, já aprendeu que não se escreve cenoura com S?
Recebi - curiosamente desbotados - os desenhos que ela fez. Gostaria de ressaltar a grafia do meu nome: Carolina o escreveu com dois "esses". Ela também tornou a contar histórias sobre coelhos e senouras, e estou começando a pensar que a professora não a ensinou outras palavras senão estas.
Estranhei a ausência de desenhos do Mateus. Há alguma coisa acontecendo que eu não sei?
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Dê um abraço nas crianças e espere por mim dia 29 de manhã;
Gustavo.
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P.s.: Pensei ter anexado o cheque à última carta, mas parece que esqueci. Encontrei-o sob uma pilha de papéis no meu escritório e peço desculpas. Prometo enviá-lo na próxima carta - sem ser esta - sem mais delongas.
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Querido,
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Estamos todos bem.
Fiquei alegre em saber das novidades, especialmente da sua possível promoção. Sobre as lembrancinhas, eu quero um vestido novo e sapatos sem salto - minha coluna está em cacarecos por causa deles - que combinem com o vestido. Quanto às crianças, Carol não anda merecendo bonecas. Cismou que quer ser modelo, surrupiou minha maquiagem e até agora não sei onde a meteu. Sim, eu tenho certeza que não foi a mamãe, pois a sua filha apareceu pintada feito uma drag queen no colégio na quarta-feira e quase foi suspensa.
Tive uma conversa com a professora. Ela disse que já ensinou outras palavras, mas Carol teima em usar coelhos em todas as suas redações. A senoura já voltou a ter C, graças à analogia feita com os Coelhos, que parecem ser seu maior interesse.
Mateus por sua vez pede um jogo de computador que eu não sei escrever o nome - e ele não quer vir aqui escrever, provavelmente porque também não sabe - então quando você chegar de viagem veja com ele do que se trata.
Seu filho não mandou nenhum desenho porque ele já tem 11 anos e passou dessa fase. Aliás, encontrei uma Playboy no quarto dele outro dia e gostaria de saber se isso foi obra sua. Conversei com a professora dele, e ela diz que é perfeitamente normal (e também deu a entender que me acha neurótica, lembre-me de detalhar o acontecido quando você voltar).
Para finalizar: a coordenadora da escola anotou o telefone de um psicólogo e recomendou que levássemos a Carolina "para prevenir desvios de comportamento". Ou seja, temos mais um motivo para recear pela nossa caçula. Temo que a menina tenha herdado o gênio da minha mãe...
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Cheia de saudades,
Marcela.
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P.s.: Não precisa mais mandar o cheque, paguei com o dinheiro da poupança de férias. Quando você chegar, favor dar uma olhada nisso porque eu acho que fará falta.
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P.p.s.: Você insiste em escrever cartas! E-mails são mais rápidos, mais práticos e não custam nada além da conta da internet (que a gente já paga). Da próxima vez eu me recuso a responder em manuscrito.
5 comentários:
o título seria "Correio do Amor pós-casamento", mas achei fatídico.
assim tá melhor.
Excelente.
muito divertido o texto ^^
*PAF*
Ótimo. Adorei.rs. Tb prefiro cartas. Pobre homem incompreendido.
^^
Lívia.
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